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Foto do escritorAna Carolina de Paula Cavalheri

O que é física médica?

Conheça um pouco mais sobre a atuação e sobre a história dessa profissão!


A Marie Curie Jr. é uma empresa júnior formada por alunos do curso de Física Médica da USP de Ribeirão Preto. Como boa parte dos estudantes de Física Médica, nossos membros são frequentemente submetidos a um extenso questionário sobre o curso de graduação e sobre a carreira que escolheram. “É uma área da Medicina? Certeza que é uma profissão de verdade? Vocês lidam com radiação. Não é perigoso? E isso dá dinheiro?” Entre todas as dúvidas que recebemos diariamente, a mais recorrente é: o que é Física Médica?

Segundo a Associação Brasileira de Física Médica (ABFM), trata-se do ramo da Física que compreende a aplicação dos conceitos, leis, modelos, agentes e métodos da Física para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças. A atuação dos físicos médicos se dá em três áreas principais: Radioterapia, Radiodiagnóstico e Medicina Nuclear. Esses profissionais também podem atuar com Radiologia Diagnóstica e Intervencionista, Radiocirurgia, Proteção Radiológica, Metrologia das Radiações Ionizantes, Biomagnetismo e Radiobiologia Clínica e Epidemiológica.

Na Radioterapia, o físico médico compõe a equipe de profissionais de saúde que planejam e realizam o tratamento de câncer, para garantir que a maior parte da radiação direcionada ao paciente seja absorvida pelas células tumorais, preservando ao máximo o tecido saudável adjacente.

Na Medicina Nuclear, o físico médico realiza a administração de radioisótopos aos pacientes. Essas substâncias radioativas servem para marcar moléculas que serão posteriormente observadas em exames de imagem, ou ainda para destruir células e estruturas indesejadas.

Na Proteção Radiológica (ou Radioproteção), o físico médico garante o uso seguro de fontes de radiação. Suas responsabilidades podem variar desde o planejamento da espessura das paredes das salas que receberão essas fontes, até o controle das excreções dos pacientes que estão com radioisótopos no organismo, para evitar que outros pacientes e profissionais sejam expostos a essa radiação.

No Radiodiagnóstico, o físico médico geralmente trabalha com o controle de qualidade dos equipamentos envolvidos em exames como tomografia, ressonância magnética e PET-CT, a fim de garantir a obtenção de boas imagens.

Ao analisar a configuração atual da Física Médica, pode parecer que essa área de estudo surgiu recentemente, com o desenvolvimento dos modernos equipamentos utilizados nos hospitais para o diagnóstico e tratamento de doenças. Entretanto, há registros de estudiosos antigos que já aplicavam princípios da Física para compreender e descrever o funcionamento do corpo humano. Na Grécia Clássica, Hipócrates utilizou argila úmida para mapear a distribuição da temperatura da pele: a argila secava mais rápido onde a temperatura era maior. Esse método pode ser considerado a primeira técnica de diagnóstico por imagem conhecida. O sábio iraquiano conhecido como Alhazen descreveu a física da visão e demonstrou experimentalmente que ela era o resultado da incidência de raios luz no globo ocular, contrariando o que se acreditava até então. Não podemos deixar de mencionar Leonardo da Vinci, que estudou a locomoção e a anatomia humana, ótica e ainda descobriu o princípio das lentes de contato, entre outras importantes contribuições. Muitos outros estudiosos desempenharam papéis fundamentais no desenvolvimento da Física aplicada à Medicina. No século XIX, alguns físicos ajudaram a treinar médicos para lidar com as novas tecnologias. Faraday, por exemplo, fazia conferências no Hospital St. George, em Londres.

A Física Médica, da maneira como a conhecemos hoje, desenvolveu-se principalmente após a descoberta dos raios-X pelo físico alemão Röntgen, da radioatividade por Henri Becquerel e pelo casal Curie, e do elemento Rádio, também pelo casal Curie. O uso, muitas vezes imprudente, de radiação, provocou vários problemas no período inicial de sua descoberta, dentre os quais se pode citar queimaduras, alopecia e até indução de câncer em radiologistas. Tudo isso incentivou o desenvolvimento de técnicas de radioproteção, que possibilitaram a utilização segura de radiação no diagnóstico e no tratamento de doenças.

Em 1950, médicos e físicos já atuavam juntos em inúmeras instituições clínicas. Entre 1960 e 1970, surgiram as primeiras legislações profissionais em Física Médica. Em 2012, a Organização Internacional do Trabalho (ILO) classificou a Física Médica como profissão, sendo parte integrante da força de trabalho dos profissionais de saúde.

Atualmente, várias instituições de ensino superior brasileiras oferecem o curso de graduação em Física Médica. Curiosamente, algumas pessoas ingressam nesse curso sem saber do que ele se trata. Muitos são atraídos pela parte “Médica” da “Física Médica”, imaginando que estudarão principalmente ciências biológicas. A falta de informação quase sempre resulta em frustração, e leva muitos alunos a abandonarem a graduação. A verdade é que o curso de Física Médica da USP é um curso de Física, com algumas disciplinas que estabelecem a ligação entre a Física e a Medicina. É uma graduação pra quem gosta de fazer cálculos, resolver problemas e aplicar princípios da Física para proporcionar mais saúde e segurança à população.

Esperamos que esse texto tenha ajudado a esclarecer um pouco mais sobre a Física Médica, uma área extremamente importante, mas ainda relativamente desconhecida. O físico médico, por possuir formação interdisciplinar, pode atuar em diversas áreas, além daquelas que mencionamos anteriormente. Agora, você já sabe o que responder se alguém te perguntar o que é Física Médica!



Referências:

TERINI, R. A. A História da Física Médica na formação do Físico Médico. Revista Brasileira de Física Médica, [S. l.], v. 12, n. 3, p. 2–6, 2018. DOI: 10.29384/rbfm.2018.v12.n3.p2-6. Disponível em: https://www.rbfm.org.br/rbfm/article/view/473. Acesso em: 9 jun. 2023.

Educação: Quando a física e a medicina te encontram. Revista Rede Câncer, Rio de Janeiro, v.21, p. 34-37, abril de 2013. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//rede_cancer_21.pdf. Acesso em: 09 jun. 2023.

O que é Física Médica? Associação Brasileira de Física Médica. Disponível em: https://www.abfm.org.br/paginas/conheca-a-fisica-medica.php. Acesso em: 09 jun. 2023.


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